Há 20 anos, digitar a palavra
“tinnitus” no Pubmed fornecia 150 referências (1994). Já em 2012, esse número
aumentou para 641, mostrando um crescimento maior que 400% nas publicações científicas.
Este é um parâmetro nítido do aumento de interesse sobre o assunto, seja por
parte de pesquisadores, universidades, indústrias farmacêuticas e empresas de
tecnologia auditiva.
Uma possível justificativa para tal interesse
está nas evidências científicas sobre o aumento progressivo de zumbido na
população. Afinal, essa prevalência já subiu de 15% (National Institute of
Health, 1995) para 25,3% (Shargorodsky, 2010) em apenas 15 anos, tornando-o um
problema mais frequente do que a asma, surdez, cegueira ou Alzheimer. E isso já se reflete visivelmente nos consultórios de
otorrinolaringologistas de todo o Brasil, haja vista a recente busca por mais
informação em cursos e congressos.
Já está comprovado que alterações
cocleares, mesmo que mínimas, podem originar zumbido (Hesse et al., 2005;
Noreña e Chery-Croze, 2007). Além disso, estudos em adultos normouvintes já
demonstraram que a presença do zumbido geralmente se associa a alterações nas
emissões otoacústicas (Nieschalk et. al., 1998; Sanchez et. al., 2005; Sanches,
2008; Thabet, 2009). Na prática, quando um
adulto tem zumbido, cerca de 90% das vezes já existe alteração de limiar tonal
em pelo menos uma frequência sonora na audiometria. Entretanto, em jovens a
situação é diferente: eles costumam perceber zumbido antes de notarem qualquer
perda auditiva. Portanto, a presença do zumbido sugere fortemente que ele seja
um sinal de alerta precoce para futuros problemas e isso deveria acelerar a
busca pelo diagnóstico precoce, seja ela feita por otorrinolaringologistas,
clínicos, geriatras, pediatras ou hebiatras.
Em
2007, publicamos uma pesquisa como parceria entre as Universidades de São Paulo
e de Iowa, que estudou 506 crianças de 5 a 12 anos (Coelho, Sanchez, Tyler,
2007). Dentre elas, 37,7% deles tinham zumbido e 19% se incomodavam com ele.
Estes dados surpreendentes nos motivaram a pesquisar o problema em
adolescentes, considerando que eles gostam ainda mais das situações atuais de
lazer ruidoso. Assim, convidamos 170 adolescentes do Colégio Santa Cruz, uma
renomada escola paulistana, para se submeterem a diversos procedimentos, após
autorização dos pais, dentro do ambiente escolar. A escolha de uma escola
privada foi baseada na hipótese de que seus alunos, pertencentes a famílias de
classe média ou alta, teriam liberdade financeira para escolher os hábitos de
lazer, o que nos permitiria observar melhor as opções escolhidas por eles.
Inicialmente,
os alunos responderam um questionário para avaliar sua autopercepção de
sintomas (zumbido, perda auditiva e hipersensibilidade a sons) e a exposição a
potenciais fatores de risco (fones de ouvido, baladas/shows e celulares). A
seguir, duas otorrinolaringologistas realizaram o exame físico e removeram
cerúmen nos casos necessários, garantindo boas condições para a realização dos
exames. Posteriormente, duas fonoaudiólogas realizaram, em cabina acústica, a
audiometria tonal de 250 a 16000Hz, limiar de desconforto a sons (LDL),
emissões otoacústicas e acufenometria (apenas nos casos em que o zumbido estava
presente no momento).
Essa pesquisa, realizada com apoio da FAPESP, foi
inédita porque o zumbido foi avaliado por dois métodos complementares: o
questionário - que toda
pesquisa faz - e a acufenometria, usada como critério de rigor para a
confirmação da presença do zumbido.
No
questionário dos 170 alunos, 93 (54,7%) responderam que têm ou já tiveram
zumbido nos últimos 12 meses. Dentre eles, 51,1% o associaram à saída de
ambientes com música alta. Quanto à
acufenometria, 49 alunos (28,8% dos 170 avaliados ou 52,6% dos 93 que relataram
zumbido pelo questionário) também conseguiram
medir a frequência sonora e a sensação de intensidade do zumbido dentro da
cabina acústica, de modo reprodutível.
Independente
se considerarmos a resposta do questionário (54,7%) - metodologia semelhante às
demais pesquisas - ou a da acufenometria (28,8%), já evidenciamos que a
prevalência de zumbido entre adolescentes é maior do que a de outras faixas
etárias, como visto anteriormente. Ainda mais interessante foi o fato do zumbido
provocar pouco incômodo (média da escala numérica de 0 a 10 = 3,58) nos
adolescentes, fazendo com que eles não contassem aos pais nem procurassem ajuda
médica. Pensando em termos de “epidemia”, esse parece um terreno fértil para
uma “proliferação” do problema, já que esses fatores atrasam o início do
tratamento e contribuem para que o zumbido se torne cada vez mais crônico.
Esta geração de jovens
tem potencial para viver até os 100 anos. É possível
e provável que esses ouvidos com zumbido sejam mais sensíveis a lesões no futuro, por isso devem ser avaliados
com mais frequência e mais cuidado, pois poderão ter perda auditiva mais precoce do que outras
gerações.
Há 20 anos, era quase unanimidade que
o atendimento a um paciente com zumbido evocasse automaticamente no
otorrinolaringologista um pensamento parecido com “não há nada que possa ser
feito” ou “você precisa aprender a conviver com isso”. Entretanto, a
investigação etiológica do zumbido e a definição da conduta terapêutica são
atos próprios do otorrinolaringologista, embora o trabalho de equipe
interdisciplinar seja uma ferramenta muito valiosa, em especial nos casos
difíceis.
Por isso, para os interessados em ter um novo olhar sobre um problema
antigo, já temos à disposição:
- um protocolo bem definido de
investigação médica e audiológica para determinar as principais etiologias do
zumbido e auxiliar na diferenciação dos subgrupos, auxiliando no atendimento do
dia a dia;
- um protocolo de “handicap” validado e traduzido para o português, auxiliando
como instrumento para pesquisas científicas;
- médicos ou centros com atendimento especializado, às vezes até
bastante interdisciplinar, em nível de SUS, convênios e particulares, em várias
cidades;
- cursos, painéis, mesas redondas ou
plenárias sobre zumbido em todos os grandes congressos de otorrinolaringologia
no Brasil, via de regra com salas cheias;
- eventos internacionais de zumbido:
o International Tinnitus Seminar, existente desde 1981 e ocorrendo a cada 3
anos; o Tinnitus Research Initiative, existente desde 2006 e ocorrendo
anualmente.
Assim, com o conhecimento científico
crescente e condições melhores de atendimento, cabe aqui uma reflexão: a frase
“zumbido não tem cura” por enquanto é verdadeira no sentido literal da palvara
cura. Entretanto, por algum motivo, ela é frequentemente associada a “não ter
nada para fazer”, o que não é coerente com as várias opções de tratamento publicadas,
com eficácias distintas que provavelmente serão maiores, quando forem aplicadas
especificamente a subgrupos de pacientes com zumbido.
Curar-se envolve, via de regra,
percorrer um caminho que proporciona 100% de melhora na linha de chegada.
Muitas doenças não têm cura definitiva, mas é rotina que os médicos invistam
esforços pessoais para amenizar e controlar pacientes com rinite alérgica,
polipose nasal, asma, hipertensão, diabetes, etc. Percorrer o caminho do
tratamento do zumbido e poder obter melhora parcial, seja de 20%, 50% ou 80%,
como se consegue com outros sintomas da Medicina, já poderia ser um fato mais aceito
pelos otorrinolaringologistas.
Muitos mistérios ainda precisam ser desvendados e muita coisa ainda
precisa ser feita para que o otorrino “abrace” o zumbido com mais naturalidade,
assim como se faz com as amigdalites, nódulos de pregas vocais, desvios de
septo e perfurações timpânicas.
Os vários fatores que justificam esse aumento sensível de prevalência do
zumbido - maior exposição a ruído, a ondas eletromagnéticas, a erros
alimentares e a estresses diários - vão continuar presentes em nossas vidas por
muitos anos. Então, fica lógico entender porque até crianças e adolescentes
começaram a apresentar esse problema. Infelizmente, é provável que nossas próximas
gerações de filhos e netos tenham maior probabilidade de precisar de nossa ajuda
para diagnóstico, tratamento ou prevenção, o que seria um motivo pessoal a mais
para o zumbido entrar de vez na pauta do otorrinolaringologista.
Vocês poderiam me indicar um profissional na região de Porto Alegre e grande Porto Alegre, já mais familiarizado com novos estudos e métodos para atuarem com o zumbido. Muito obrigado e um abração! João Osorio Simões Nobre
ResponderExcluirSou de Jundiai e tambem preciso de ajuda, tenho Zumbido ha muitos anos e sta se intensificando.
ResponderExcluirExiste algum especialista no assunto em Ribeirão preto ?
ResponderExcluirBoa tarde, é um pouco frustante receber news leter, (hoje é dia 9 julho de 2020) na caixa de e-mail e ao abrir o link descobrir que o articulo sugerido foi publicado em 2017 e já lido outras vezes!
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